Os Exorcistas #1

By xfebruarysong - March 25, 2018





Capitulo
1


O barulho da máquina é ensurdecedor, mas não abafa a confusão de vozes por detrás das cortinas verdes claras. Médicos, enfermeiros e auxiliares e um grupo de jovens gritam uns com os outros. Ele observa as sombras altas e algo distorcidas, braços no ar, vozes exaltadas e alguém a chorar. A sua atenção é direcionada agora para a rapariga que está deitada, fios e mais fios correm-lhe pelo torso. Ele repara que a máquina respira por ela. O peito sobe e desce muito devagar.

Ele franze o sobrolho. Está de certo modo intrigado; ouviu muitas histórias a respeito da jovem que está à sua frente e nenhuma delas o convence que ela tem algo de especial. Afinal de contas… o seu estado apenas confirma que ela é frágil e quebrável como todos os outros.

A sua mão afasta alguns cabelos negros da face da rapariga. Uma cicatriz perto do olho esquerdo já muito antiga que provavelmente passa despercebida a olhares desatentos.

“Não… não e não! Ela não!”

“O senhor tem que se acalmar-“

“Não me acalmo coisa nenhuma!”

“Artur, p-por favor!”

O sofrimento do outro lado do quarto é quase palpável. Os amigos e familiares estão em choque com as más noticias que a equipa médica lhes deu. Carolina Bertani está com morte cerebral e quanto mais cedo desligarem as máquinas mais hipóteses têm de colher os seus órgãos saudáveis.

Ele respira fundo e o conflito que vai dentro dele é refletido nos seus olhos esverdeados. Os seus pensamentos vão para tempos distantes e memórias que não são de todo bem-vindas tomam conta dele. Uma promessa. Promessas são supostamente algo sagradas, mas não para ele. Pelo menos, não o são há milénios. Ele quebrou-as todas. Então porque é que agora haveria de cumprir uma delas? Ela estava perfeitamente consciente do que ele era… do que ele é. Ela sabia-o e, no entanto, obrigou-lhe a prometer-lhe que o faria; - que a protegeria até ao fim dos seus tempos.

Raiva. Uma súbita cólera percorre-lhe pelas veias. Ele agarra nos fios e puxa-os com tal força que deixa marcas visíveis no corpo dela. Ele puxa-a para si e as suas caras estão a meros milímetros de distância. “Parece que hoje é o teu dia de sorte,” ele sussurra, a sua fúria agora contida.

Ele assiste sem qualquer emoção. A rapariga engasga-se no ventilador, os seus olhos de cor de avelã estão arregalados de choque. Ela olha diretamente para ele.

A cortinas são imediatamente afastadas e dois homens vestidos de bata branca correm até ela.

Carolina Bertani sabe que estão a falar com ela, mas ela continua a fixar agora a parede branca.

“Como é que…”

Ninguém tinha resposta. O quarto ficou em total silêncio. Tudo o que se ouvia era a sua respiração ofegante.

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